Vigilante da UFMT condenado por abuso sexual é preso durante apuração de reportagem sobre mandados em aberto

  • 14/03/2025
(Foto: Reprodução)
Carlos José de Figueiredo, de 64 anos, foi condenado a pena de 12 anos de prisão em regime fechado por abusar de duas pessoas e continuava trabalhando normalmente. Carlos Figueiredo, servidor na Universidade Federal de Mato Grosso Reprodução Procurado desde novembro de 2024 após ser condenado por estupro de vulnerável, o vigilante da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Carlos José de Figueiredo, de 64 anos, foi preso na quinta-feira (13), em Cuiabá (MT). A informação sobre a prisão foi divulgada pela Polícia Civil de MT após a publicação nesta sexta-feira (14) de reportagem do g1 sobre servidores públicos federais com mandados de prisão em aberto. A polícia foi procurada pelo g1 antes de a reportagem ir ao ar, mas somente após a publicação informou a prisão. Carlos Figueiredo foi condenado a pena de 12 anos de prisão em regime fechado por abusar de duas pessoas e continuava em liberdade e trabalhando. Segundo a Polícia Civil, depois do cumprimento do mandado de prisão, José foi encaminhado para a audiência de custódia. A polícia informou que, assim que tomou conhecimento do mandado de prisão em aberto, a equipe da Gerência Estadual de Polinter e Capturas (Gepol) passou a procurar pelo vigilante e cumpriu a ordem judicial. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 MT no WhatsApp O g1 esteve na universidade onde Figueiredo trabalha. O responsável pelo setor confirmou que ele trabalhava na unidade, mas que não estava presente no momento. A reportagem tentou contato com o servidor por ligações e mensagens, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem. A UFMT informou que repudia atos de violência e que "condutas de seus servidores fora das funções institucionais não podem ser alvo de processos administrativos, nos termos da legislação, cabendo à Justiça realizar os procedimentos legais". O Tribunal de Justiça do Mato Grosso e a vara responsável pelo caso afirmaram que o processo está sob sigilo. Figueiredo foi conduzido à Gerência Estadual de Polinter e Capturas (Gepol) e está sob disposição da Justiça. Servidores procurados pela Justiça EXCLUSIVO: Lista de procurados pela Justiça inclui servidores federais O levantamento exclusivo publicado no g1 mostrou que pelo menos oito servidores públicos federais são procurados pela Justiça há meses, mas não são presos. A pesquisa foi feita partir de informações de 149 mil mandados de prisão. Para especialistas, ter procurados no serviço público mostra que o Brasil enfrenta falhas na gestão de informações. O levantamento considerou quase a metade dos 326 mil mandados de prisão existentes no país. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que tem os dados de todos os mandados, informou que não poderia fornecer detalhes dos 180 mil mandados que faltavam (clique aqui e veja como a apuração foi feita). Os dados mostram que são procurados: Um vigilante da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), condenado por estupro de vulnerável. Ele é procurado desde novembro de 2024 para cumprir a pena de 12 anos de prisão. Um assistente de administração do Instituto Federal de Rondônia (IFRO), procurado desde novembro para cumprir sete meses de prisão em regime semiaberto por embriaguez ao volante. Um agente ambiental do Parque Nacional do Cabo Orange, no Amapá, que é procurado desde maio para cumprir um mês de prisão em semiaberto por ameaçar a ex-companheira. Um auxiliar operacional que atua na Secretaria de Gestão Estratégica do Governo de Roraima, alvo desde setembro de um mandado de prisão preventiva numa investigação sobre estupro de vulnerável. Ele ainda não foi julgado. (leia mais aqui) Outros quatro servidores— um professor substituto, um médico, um agente especial e um analista — são alvo de mandados de prisão pelo não pagamento de pensão alimentícia, uma prisão civil (não criminal) que é revogada assim que a pessoa paga a dívida. Além deles, o g1 encontrou um agente de portaria de uma escola do Amapá que, desde 2019, era procurado em uma investigação sobre furto qualificado. Na quarta-feira (12), após a reportagem entrar em contato com a Polícia Civil do estado, o servidor foi preso. Ele também ainda não foi julgado. Para especialistas, há 'amadorismo' e 'falta de integração' na gestão pública Para Rafael Alcadipani, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a dificuldade em cumprir mandados de prisão contra servidores evidencia falhas na gestão de informações pelo Poder Público brasileiro. "Isso é uma amostra da dificuldade, do amadorismo com que a gente lida [com casos de pessoas procuradas pela Justiça]. Estamos na era digital, falando de inteligência artificial, enquanto o Estado brasileiro ainda é analógico na sua gestão de informações", afirma. Existe um descompasso gritante entre o que se tem de tecnologia e de possibilidade de gestão de dados hoje, e aquilo que a gente entrega para o cidadão. Não é razoável você supor que uma pessoa que está sendo procurada pela Justiça está trabalhando em uma repartição pública." O presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Brasil (Adepol), Rodolfo Laterza, diz que "causa absoluta perplexidade que essas pessoas sigam trabalhando, já que possuem endereço fixo e poderiam ser capturadas, com o cumprimento da ordem judicial". Segundo Laterza, a falha decorre de problemas na comunicação entre os órgãos. "A integração das plataformas de bancos de dados entre o Poder Executivo [responsável pelas polícias] e o Judiciário [pelos mandados de prisão] enfrenta sérios problemas de execução. Para ter uma ideia, intimações policiais frequentemente chegam com atraso porque passam por vários setores antes de chegarem ao destinatário correto. Em alguns casos, o Judiciário até envia para o órgão errado." Ao g1, o CNJ, responsável pela administração do Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP), afirmou que mantém um acordo que permite o acesso integral dos mandados com o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP). O BNMP é um portal que reúne ordens de prisão do país e é acessível a qualquer cidadão. Cabe aos tribunais a alimentação dos dados, incluindo ou excluindo os mandados quando estes são revogados ou cumpridos. Segundo o CNJ, cabe ao Ministério da Justiça repassar os dados do BNMP para todos os órgãos de segurança pública do país. Procurado, inicialmente afirmou que não iria se manifestar. Após a publicação, o Ministério da Justiça e Segurança Pública informou que repassa as informações do banco aos órgãos de segurança pública, através da ferramenta Sinesp Infoseg, mas que "não possui competência para fiscalizar ou interferir na execução dessas ações".

FONTE: https://g1.globo.com/mt/mato-grosso/noticia/2025/03/14/vigilante-da-ufmt-condenado-por-abuso-sexual-e-preso-apos-reportagem-revelar-que-seguia-trabalhando.ghtml


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